Entrevista ONIP – Gustavo Leal Sales Filho, Diretor-Geral SENAI

“ONIP pode articular agenda integrada para alavancar a internacionalização de tecnologias brasileiras”.
Tecnologia e inovação com DNA brasileiro
“A inovação é um desafio global, não exclusivo do Brasil”, afirma Gustavo Leal Sales Filho, Diretor-Geral SENAI, em entrevista exclusiva para o site da ONIP.
Na entrevista, o executivo fala sobre o que o SENAI vem fazendo, no setor de O&G, para fomentar tecnologia e inovação com DNA brasileiro. Iniciativas como a criação da Rede de Institutos SENAI de Inovação (ISI), resultado de uma ação conjunta com a CNI e com apoio do BNDES.
“Em mais de uma década de atuação, a Rede ISI já desenvolveu mais de 3,3 mil projetos de PD&I, beneficiando mais de 1,3 mil empresas, com investimentos totais superiores a R$ 2,47 bilhões”, conta.
Para o Diretor-Geral SENAI, a ONIP pode exercer um papel estratégico na articulação e representação institucional da cadeia de óleo e gás. “A construção de uma agenda integrada com instituições como o SENAI é fundamental para alavancar a internacionalização de tecnologias brasileiras”, afirma.
Quais os desafios para a inovação no Brasil?
A inovação é um desafio global, não exclusivo do Brasil. Em um cenário cada vez mais dinâmico e pautado por novas tecnologias — basta observar que, entre as 10 maiores empresas do S&P 500, sete são do setor tecnológico —, a competitividade passou a ser internacional, exigindo adaptação constante por parte das empresas.
Uma pesquisa encomendada pela CNI em 2019 com 100 CEOs apontou que o grau de inovação nas empresas brasileiras ainda era considerado baixo ou muito baixo. Os principais motivos destacados foram a ausência de cultura de inovação nas empresas e no país (25%); a falta de financiamento e/ou investimento (18,8%); a Insegurança econômica e falta de confiança (14,6%).
Apesar desse panorama, temos avançado. Em 2024, o Brasil ocupava a 50ª. economia mais inovadora do mundo, mas ainda aquém do potencial de um país que possui a décima maior economia global.
No setor de O&G o que o SENAI vem fazendo, para fomentar tecnologia e inovação com DNA brasileiro?
A principal iniciativa do SENAI foi a criação da Rede de Institutos SENAI de Inovação (ISI), em 2011, resultado de uma ação conjunta com a CNI e com apoio do BNDES. Essa iniciativa surgiu no âmbito da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), com o objetivo de ampliar o investimento privado em P&D, fortalecendo a inovação e a competitividade da indústria brasileira.
O senhor poderia falar um pouco da Rede, como ela é formada, como trabalha e quais os resultados e entregas realizadas pela rede no setor de O&G?
A Rede ISI é composta por 28 institutos distribuídos estrategicamente pelas principais regiões industriais do país. Cada instituto possui uma especialização tecnológica, e juntos formam uma rede capaz de entregar soluções maduras em termos de readiness tecnológico (TRL), facilitando a adoção industrial.
Embora não haja um instituto exclusivamente dedicado ao setor de óleo e gás, o trabalho colaborativo é o grande diferencial da rede. Os projetos desenvolvidos para o setor são multidisciplinares e frequentemente envolvem parcerias com universidades e outros centros de pesquisa.
Em mais de uma década de atuação, a Rede ISI já desenvolveu mais de 3,3 mil projetos de PD&I, beneficiando mais de 1,3 mil empresas, com investimentos totais superiores a R$ 2,47 bilhões. Hoje, 23 dos 28 institutos são credenciados como Unidades de Pesquisa pela ANP e, juntos, posicionam o SENAI como o segundo maior executor de recursos da Cláusula de P&D da ANP, com 178 projetos em carteira (concluídos ou em andamento).
Qual a tecnologia desenvolvida pelo SENAI que, na sua opinião, teve maior impacto na competitividade do setor de petróleo e gás?
É difícil escolher uma só, mas alguns projetos merecem destaque o FlatFish – veículo autônomo submarino capaz de realizar inspeções visuais em 3D de alta resolução, ideal para operações em águas profundas. É o primeiro protótipo desenvolvido no Brasil e contribui para redução de custos, aumento da segurança e proteção ambiental –, o Robô de Pintura – que automatiza a pintura de navios e plataformas, otimizando o processo, reduzindo custos e riscos operacionais –, o Annelida – robô capaz de desobstruir dutos e linhas não pigáveis sem o uso de sondas. Envolve parceria entre o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, Petrobras, USP, UFRGS e a empresa Upsensor – e o Projeto BRAVE – que visa desenvolver o Agave como nova fonte de biomassa para bioenergia. A pesquisa foca em melhoramento genético, mecanização agrícola e rotas para produção de etanol e coprodutos, promovendo desenvolvimento sustentável e novas oportunidades no sertão brasileiro.
Como a tecnologia desenvolvida pelo SENAI tem se transformado em patentes adquiridas por empresas brasileiras?
A lógica da Rede ISI é justamente criar soluções que possam ser transferidas ao setor produtivo. Projetos como o FlatFish e o Robô de Pintura exemplificam esse caminho, tendo suas tecnologias licenciadas para exploração comercial por empresas da indústria. Contudo, essa transição não é automática. Exige empenho, desde o desenvolvimento colaborativo nas fases iniciais até a estruturação de uma transferência tecnológica eficaz, com apoio jurídico e comercial.
A tecnologia desenvolvida no Brasil pode ser internacionalizada? Qual o caminho para isso?
Sem dúvida. O FlatFish é um exemplo emblemático: em 2023, foi premiado na OTC (Offshore Technology Conference), uma das mais prestigiadas do setor de óleo e gás. Mesmo licenciado para uma empresa estrangeira, o desenvolvimento da solução continuou com o SENAI, e hoje ela é comercializada globalmente. A internacionalização exige tecnologia competitiva, estratégias de mercado bem definidas e mecanismos de apoio que acelerem o ciclo da inovação. Fortalecer esse ecossistema é fundamental para projetar soluções brasileiras no mercado global.
Qual seria, em sua opinião, o papel da ONIP, nesse contexto de fomento e internacionalização de tecnologia com DNA brasileiro?
A ONIP pode exercer um papel estratégico na articulação e representação institucional da cadeia de óleo e gás. A construção de uma agenda integrada com instituições como o SENAI é fundamental para alavancar a internacionalização de tecnologias brasileiras.
Destaco dois papéis importantes para a ONIP: representar o Brasil em fóruns e eventos internacionais, promovendo as soluções desenvolvidas no país e mobilizar e articular a cadeia produtiva, incentivando o surgimento de novos fornecedores nacionais com capacidade tecnológica e vocação para inovação.