Investir na liderança feminina é investir na sustentabilidade e no futuro do setor energético

A diretora-geral da Organização Nacional da Industria do Petróleo (ONIP), Cynthia Silveira, participou, no dia 25 de março, do evento “Liderança sustentável: mulheres à frente de decisões estratégicas no Brasil”, promovido pela AMCHAM Rio.
A executiva fez, na ocasião, um pronunciamento especial sobre o papel transformador da liderança feminina em um mundo em transição:
“Investir na liderança feminina é investir na sustentabilidade e no futuro do setor energético. É preparar o terreno para as novas gerações, para as jovens que hoje sonham com um lugar na indústria de energia, mas ainda não se veem representadas. É garantir que o talento não seja desperdiçado por falta de oportunidades. É proteger nossas conquistas e abrir caminho para muito mais”, afirmou.
Leia abaixo a íntegra do pronunciamento:
Boa tarde a todos.
É uma honra estar aqui hoje, ao lado de líderes tão inspiradoras, em um debate que vai além das fronteiras do setor energético e do meio-ambiente — é um debate sobre futuro, sobre equidade, sobre o papel transformador da liderança feminina em um mundo em transição, no momento em que programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) estão sob escrutínio.
Não podemos esquecer que temos o privilégio de estar num país onde as mulheres conquistaram direitos essenciais, inclusive com leis de proteção quanto à violência doméstica. No entanto muitas das empresas multinacionais aqui presentes atuam em locais onde esses direitos são limitados, ou nem mesmo reconhecidos. Isso nos lembra que o compromisso com a equidade precisa ultrapassar fronteiras e fazer parte da cultura organizacional em qualquer lugar do mundo.
Estamos vivendo um dos momentos mais complexos da nossa história recente. Em meio às tensões geopolíticas, ao avanço de extremismos, ao crescente clamor por justiça social, às incertezas climáticas e a inteligência artificial, temos diante de nós a responsabilidade de redefinir rumos. E o setor de energia ocupa o centro dessa transformação, e com ele a necessidade de uma liderança mais diversa.
A transição energética não pode ser encarada apenas como uma mudança tecnológica ou uma estratégia ambiental. Ela é, antes de tudo, humana, política e social, o que torna a diversidade essencial. Sem representatividade, não conseguiremos construir um futuro estável e justo, com visões abrangentes. Precisamos de múltiplas vozes, com maior participação feminina nas esferas decisórias, pois a pluralidade é crucial para enfrentarmos as complexidades desse desafio.
A COP 30, que será realizada no Brasil, nos coloca sob os holofotes do mundo. Somos um país formado por múltiplas raízes, das quais nos orgulhamos muito, com potencial energético único, com matriz limpa e biodiversidade incomparável. Mas também somos um país com desigualdades profundas, com vulnerabilidades sociais e históricas, que precisam ser enfrentadas com coragem e decisão.
Vemos o mundo ávido por energia pelo conforto que ela proporciona, pelo poder transformador na sociedade, por ser motor da inovação tecnológica, mas sabemos da importância em compatibilizar com a preservação do ambiente. Nossa posição de destaque no cenário global nos impõe a responsabilidade de mostrar que não pode haver dilema entre progresso energético e sustentabilidade, mas sim integração de forma eficiente e responsável.
Hoje, quando falamos de sustentabilidade no setor de energia, falamos também de segurança energética, de justiça climática, de modelos de negócios com impacto socioeconômico. E em todos esses temas, a diversidade é um ativo estratégico.
Neste contexto, a presença de executivas e lideranças femininas, com sua característica visão de longo prazo, é um sinal claro de maturidade institucional — e, mais do que isso, de inteligência competitiva.
Não podemos esquecer que a sustentabilidade — em sua essência — exige um olhar sistêmico. E esse olhar, muitas vezes, é trazido com mais força por mulheres que, ao longo de suas trajetórias, já aprenderam a lidar com complexidade, interdependência, escassez e inovação. Mulheres que constroem pontes, promovem diálogo, ampliam horizontes, e se preocupam com a preservação da qualidade de vida para as futuras gerações.
Mas é fundamental que essa responsabilidade não recaia apenas sobre nós, mulheres. A construção de um setor energético mais inclusivo é um dever coletivo — de empresas, governos, investidores, da sociedade como um todo. Precisamos de políticas concretas, metas mensuráveis, mecanismos de governança que garantam não apenas a entrada, mas também a permanência e o protagonismo das mulheres nesse ambiente.
Ainda enfrentamos barreiras culturais, desigualdades salariais, resistência velada — ou explícita — à nossa presença em posições de liderança. E, mais recentemente, temos observado tentativas de retrocesso, de silenciamento, de negação dos avanços que conquistamos com tanto esforço.
Por isso, momentos como este são tão importantes!
Reafirmamos o compromisso de seguir em frente com coragem e competência.
Investir na liderança feminina é investir na sustentabilidade e no futuro do setor energético. É preparar o terreno para as novas gerações, para as jovens que hoje sonham com um lugar na indústria de energia, mas ainda não se veem representadas. É garantir que o talento não seja desperdiçado por falta de oportunidades. É proteger nossas conquistas e abrir caminho para muito mais.
É simbólico — e necessário — que esta conversa aconteça em março, o mês dedicado às mulheres. Mas mais do que uma celebração, este deve ser um chamado à ação. A construção de um futuro energético mais justo e sustentável passa, necessariamente, pela ampliação da participação feminina em todos os níveis. Precisamos de toda a mão de obra disponível.
E isso precisa estar no centro da estratégia. Diversidade é um imperativo de negócio. É um fator de desempenho, de inovação e de reputação. Empresas que não entenderem esse diferencial correm o risco de ficar para trás — não apenas em termos de competitividade, mas de relevância e de perenidade.
A boa notícia é que estamos vendo mais mulheres assumindo posições de destaque e conduzindo agendas transformadoras, influenciando políticas públicas, liderando iniciativas de impacto. Isso é motivo de orgulho — e também de responsabilidade. Porque nossa presença nesses ambientes precisa abrir portas para muitas outras.
Por fim, deixo uma mensagem às jovens profissionais que estão começando,
o futuro da energia também é o seu futuro, e ele precisa da sua visão e coragem. Estamos aqui para abrir caminhos e garantir que vocês tenham ainda mais oportunidades do que nós tivemos.
A diversidade é um valor que precisa ser afirmado todos os dias. E não vejo grupo mais apto a defendê-la do que nós, Mulheres.
Agradeço a oportunidade de compartilhar minha visão. Que a AMCHAM siga valorizando e impulsionando iniciativas de apoio à diversidade ao longo do ano! E promovendo o diálogo entre energia e meio-ambiente. Seguimos juntas, comprometidas com um setor mais diverso, justo e sustentável, e com energia acessível para garantir um futuro equilibrado e competitivo. Muito obrigada.