Entrevista ONIP – Roberto Serquiz, presidente da FIERN

“A parceria com ONIP permite atualização permanente para identificar tendências”, afirma Roberto Serquiz, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN)

O Rio Grande do Norte tem uma vocação histórica para a atividade petrolífera. Hoje, o petróleo representa 60,6% do PIB da indústria do Estado e 12,3% do PIB geral do Rio Grande do Norte.

“Como maior produtora em terra, a indústria de petróleo do RN é, sim, estratégica para o país, principalmente por ter potencial para um desenvolvimento ainda mais significativo do que apresenta no seu estágio atual”, afirma, em entrevista exclusiva para nosso site, Roberto Serquiz, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), federação associada à ONIP.

“A parceria com a ONIP permite uma atualização permanente, na qual se pode melhor identificar as tendências e assim sermos mais assertivos nos investimentos e resultados “, avalia.

O estado do Rio Grande do Norte é pioneiro no setor de petróleo, tendo atividades pelo menos desde a década de 1970, com a exploração e produção do campo de Mossoró. Considerando isso, qual o impacto econômico da atividade para o estado? 

O Rio Grande do Norte tem, sim, uma vocação historicamente confirmada, podemos afirmar, para a atividade petrolífera. Os especialistas na área registram que, antes mesmo dos anos 1970, houve as primeiras pesquisas sobre as reservas de petróleo no subsolo potiguar. Ainda na década de 1940, há registro de iniciativas para esses estudos. Mas, foi, realmente, na década de 1970, com a Petrobras, que tivemos as pesquisas que consolidaram o reconhecimento de bacias e, com isso, em 1973, a descoberta do campo marítimo de Ubarama, que três anos depois estava em produção. No final dos anos 1970, começou a exploração terrestre do primeiro poço em Mossoró, seguido por descobertas nos campos de Fazenda Belém, Alto do Rodrigues, Estreito, Macau, Guamaré e Canto do Amaro – o de maior produção. Nos anos 1980, a atividade petrolífera no Estado teve um crescimento expressivo. Começou o funcionamento do Polo Industrial de Guamaré. Depois, foi instalada a Unidade de Tratamento e Processamento de Gás Natural e o gasoduto Nordestão. O Rio Grande do Norte conquistou a posição de maior produtor nacional de petróleo em terra e chegaria a ser o segundo principal produtor em mar. A extração de petróleo ficou por longo período entre as atividades que lideraram a formação do PIB do Estado e teve seu auge entre 1998 e 2000, quando o RN chegou a 30 milhões de barris por ano. O estado teve um período de arrefecimento da atividade, a partir do momento em que a Petrobras passou a priorizar o Pré-Sal. Mas, com a entrada de novas empresas no setor para assumirem os campos, houve uma retomada e, cada vez mais, a produção petrolífera voltou a ter uma importância para a economia do Rio Grande do Norte. Hoje, o petróleo representa 60,6% do PIB da indústria do Estado e 12,3% do PIB geral do Rio Grande do Norte.

Do ponto de vista da Federação, a exploração e produção no estado do Rio Grande do Norte é estratégica para o país? Por que?

As análises sobre o desempenho das empresas independentes, que passaram a atuar na Bacia Potiguar de forma efetiva a partir de dezembro de 2019, mostram que a contribuição do Rio Grande do Norte será decisiva e, sim, estratégica para um crescimento significativo da produção de petróleo no país. Os investimentos são notáveis e apontam para um crescimento, com os consequentes desdobramentos positivos para a geração de emprego. Alguns dados confirmam essa perspectiva e podemos citar: O campo do Amaro, que está localizado na bacia potiguar, se destacou como o maior produtor de petróleo onshore do Brasil no segundo trimestre deste ano, ao contribuir com 8,18% da produção nacional dessa categoria. Isso dá uma ideia da importância da nossa atividade. Claro que o Pré-Sal tem uma proporção muito maior, mas a exploração em terra ainda possui sua importância. Há expectativa de crescimento e uma dimensão inegável para a economia estadual e — porque não reconhecer? — nacional. Afinal, o Rio Grande do Norte tem sua área de produção consolidada e outras a serem exploradas. Os investimentos bilionários feitos por empresas reconhecidas pela produtividade e avanços tecnológicos confirmam as expectativas positivas.

Então, como maior produtora em terra, a indústria de petróleo do RN é, sim, estratégica para o país, principalmente por ter potencial para um desenvolvimento ainda mais significativo do que apresenta no seu estágio atual. Mas não somente por isso. Há as possibilidades da Margem Equatorial, na qual o Rio Grande do Norte está inserido e pode ser um dos estados com as principais contribuições para essa área com excepcionais potencialidades.

Além disso, temos aqui o centro de referência nacional da atividade, o CTGas-ER, em Natal, e também o Instituto SENAI de Inovação em Petróleo e Gás, em Mossoró. Esses importantes centros de estudo e desenvolvimento de tecnologias relacionadas ao petróleo e à transição energética – ambos geridos pelo SENAI-RN, no Sistema FIERN, dão sua contribuição para que tenhamos profissionais preparados e capacitados, inovação, competitividade e desenvolvimento tecnológico à altura dos desafios do setor.

Como a Federação vê os desenvolvimentos e o potencial da Margem Equatorial Brasileira? É um desenvolvimento estratégico? O país precisa avançar na exploração da região? Por que?

Esse é, sem dúvida, como citei rapidamente na resposta anterior, outro fator relevante e estratégico capaz de ampliar o posicionamento do Rio Grande do Norte em relação à atividade petrolífera nacional. As descobertas das reservas da margem equatorial – que tem uma extensão de mais de 2,2 mil km, ao longo da costa, que vai do litoral setentrional do Rio Grande do Norte até o Oiapoque, no Amapá — sinalizam um potencial relevante. Pesquisas preliminares apontam que a exploração poderá se estender até 2050 com geração de mais de 30 bilhões de barris. Estimam-se investimentos iniciais apenas da Petrobrás em US$ 2,3 bilhões. Estudos do Observatório Nacional das Indústrias (CNI) projetam que, iniciada a exploração da margem equatorial, o impacto em um ano de operação fará com que o PIB Industrial do estado do Rio Grande do Norte aumente em R$ 10 bilhões, com uma geração de 54.304 empregos diretos e indiretos, bem como aumento de 19,8% no Valor da Produção estadual. Esses impactos também se verificarão em outros estados, tais como Ceará, Maranhão, Amapá, Pará e Piauí. A Federação das Indústrias preside o Fórum Potiguar de Petróleo e Gás, associação que reúne stakeholders estratégicos para a agenda local e regional e, entre as maiores preocupações, está a capacidade, velocidade e segurança jurídica dos processos de licenciamento ambiental em âmbito estadual para viabilizar esses investimentos. É inegável que a atividade na margem equatorial será capaz de promover inúmeros benefícios se executada de maneira sustentável. Mas os órgãos e seus respectivos corpos técnicos precisam estar preparados e aptos a desempenharem tais funções sob risco de travarmos investimentos, perdermos janelas de oportunidades e, em última instância, haver desperdício de arrecadação, geração de empregos e impulsionamento da economia local.

Qual o perfil da indústria do estado, no que diz respeito ao fornecimento de produtos e serviços para a indústria de petróleo e gás?

As chamadas empresas independentes de petróleo fizeram investimentos expressivos na atividade desde o início da venda de ativos da Petrobras no Estado, em dezembro de 2019. A Petrobras chegou a comercializar R$ 2,382.86 bilhões em ativos no Rio Grande do Norte entre 9 de dezembro de 2019 e 29 de julho deste ano. Isso estimulou a participação de novos empreendedores e a retomada do crescimento da produção petrolífera no Estado. Além disso, pelo tempo de exploração e qualidade das nossas unidades de ensino, estudo e pesquisa, a indústria de petróleo se credenciou também como prestadora de serviços e produtos para a indústria nacional. Então, há uma atividade voltada à produção de petróleo e também à prestação de serviços técnicos e ao fornecimento de produtos.

O Rio Grande do Norte registrou a maior produção de petróleo e gás em quatro anos. Em 2023, foram produzidos 508.235 barris equivalentes de óleo por dia (boe/d) na média anual – melhor resultado desde 2019, quando o RN extraiu 571.991 boe/d. Especialistas apontam para um novo momento de retomada da atividade no estado. Para a FIERN, como esse cenário pode beneficiar (ou já está beneficiando) a indústria local?

A FIERN está de mãos dadas com as indústrias de petróleo, desde a capacitação da mão de obra, passando pelo apoio técnico e articulação com o setor público e intercâmbios internacionais. Agora, com a chegada das empresas que assumiram os campos maduros da Petrobras e a descoberta do Campo de Pitu em águas profundas da margem equatorial, renascem novas oportunidades para a geração de empregos, renda e desenvolvimento. Alguns números já demonstram o impacto na economia local dessas atividades. Em 2020, segundo o IBGE, o PIB da Indústria de Petróleo era estimado em R$ 4,8 bilhões, e dois anos depois já se aproxima de R$ 10,4 bilhões. Este crescimento revela uma atividade que cresce acima da média estadual, visto que o PIB geral aumentou 18%, enquanto o setor de petróleo e gás, no mesmo período, cresceu 32%. O setor representava 7,5% da economia estadual em 2020 e, dois anos depois, passou a 12,3%. O mesmo crescimento se verifica nos empregos formais gerados. Conforme CAGED, em 2020, o setor representava 6,4% de todas as carteiras assinadas no Rio Grande do Norte; já em 2023, alcançou 8,6%, saindo de 4.560 vínculos para aproximadamente 7 mil empregos. Dados do CONFAZ apontam a relevância do setor na arrecadação de ICMS. Em 2020, o setor alcançou a marca de R$ 1,2 bilhões; já em 2023, superou R$ 1,7 bilhões. É significativo também que o ano de 2024 tenha apresentado resultados satisfatórios na produção estadual, conforme aponta o Boletim Setorial da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O Rio Grande do Norte registrou um crescimento de 4% no segundo trimestre deste ano de 2024, o que equivale a um acréscimo de 105 mil barris em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a produção de gás natural teve um aumento mais expressivo, alcançando 26% de crescimento, com um adicional de 20.477 mil metros cúbicos. A produção onshore total trimestral de petróleo foi de 2,74 milhões de barris.

Pensando no futuro, a perspectiva é positiva para o estado? A tendência é que o cenário continue em alta? O que é preciso para tornar ainda mais promissor esse cenário e alavancar a produção de petróleo e gás?

As perspectivas para o Rio Grande do Norte são muito positivas nesse setor. Há previsão, segundo dados do Boletim “Consultoria Econômica do Banco do Brasil – Resenhas Regionais”, de que o Estado deverá ter um crescimento no PIB do Nordeste próximo de 6%, enquanto a média do Nordeste projeta um crescimento de 3,3%. A explicação para este crescimento está especificamente no PIB da Indústria, que também apresenta uma perspectiva de aumento acima da média regional. Esse crescimento é impulsionado exatamente pela indústria de petróleo e gás natural. A indústria potiguar apresenta crescimento nos últimos 12 meses de 7,7%, valor acima do Brasil (2,6%) e do Nordeste (1,7%). Esse cenário positivo da indústria potiguar constatado pelo IBGE também se verifica no segmento de Petróleo e Gás. Nessa pesquisa, o setor teve uma expansão de 15,79% no mesmo período. Os dados econômicos confirmam que as perspectivas são positivas para o Estado no setor de petróleo e gás. Para garantir que essa tendência se confirme, é necessário assegurar um ambiente favorável, com agilidade nos licenciamentos e segurança jurídica. Enfim, um ambiente propício ao empreendedorismo e ao desenvolvimento sustentável. O Sistema FIERN continuará atuante na defesa de um ambiente cada vez mais favorável para esses empreendimentos e, ao mesmo tempo, garantir a atuação das nossas instituições de formação profissional, capacitação, pesquisa e inovação. Essas instituições vão, sempre e cada vez mais, cumprir seu papel de formar pessoal qualificado e produzir conhecimento e soluções inovadoras que essas empresas tanto precisam em um setor no qual tecnologia e inovação são fundamentais.

Desde quando a FIERN é associada à ONIP? Na sua percepção, como a Organização pode apoiar a Federação e o desenvolvimento do setor de petróleo no Estado?

A parceria com a ONIP permite uma atualização permanente, na qual se pode melhor identificar as tendências e assim sermos mais assertivos nos investimentos e resultados. Temos, por intermédio desta parceria, nos integrado a eventos conjuntamente nessa área, tido acesso a estudos, buscado a ampliação dos investimentos e estimulado a inovação no setor. A intenção é estreitar cada vez mais essa parceria para fortalecer essas e novas iniciativas que fortalecem a indústria nacional de petróleo e toda a cadeia produtiva. Esse setor vai crescer no Rio Grande do Norte e no país. Estamos convictos de que a indústria petrolífera dará uma contribuição para que a economia potiguar e nacional gere oportunidades no caminho do desenvolvimento sustentável.