Entrevista ONIP – Miguel Andrade Filho, vice-Presidente do Conselho da ONIP e gerente do SENAI/CIMATEC e Carlos Danilo Peres Almeida, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB

Principal desafio da indústria de petróleo no Brasil é ampliar áreas de exploração
Para Miguel Andrade Filho, executivo de Novos Negócios do SENAI CIMATEC, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), e vice-presidente do Conselho Deliberativo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), o principal desafio da indústria de petróleo no Brasil, hoje, é ampliar áreas de exploração.
“É preciso convencer os órgãos ambientais de que é possível extrair petróleo e gás em modelo de produção segura e sustentável”, afirma, em entrevista exclusiva para a ONIP.
Segundo o executivo da FIEB, na Bahia, onde as operações da indústria de petróleo são majoritariamente onshore, as oportunidades são amplas para empresas de menor porte, com a exploração dos campos maduros e campos marginais. “O estado hoje vive o dilema da busca por uma maior oferta de gás natural, que pode vir desses campos maduros ou mesmo da nova fronteira de Sergipe-Alagoas”, avalia.
Para Miguel Andrade Filho, o papel de articulador da indústria local com a indústria de petróleo tem sido bem executado pela ONIP. “Em seus mais de 20 anos, a Organização é o principal fórum para a discussão da inserção cada vez maior da indústria brasileira”, destaca o executivo da FIEB.
Nesta entrevista, Miguel Andrade Filho divide as respostas com o economista Carlos Danilo Peres Almeida, da Gerência de Desenvolvimento Industrial (GDI), da FIEB.
Na sua percepção, quais são os principais os desafios da indústria brasileira de petróleo e gás, hoje?
A indústria de petróleo e gás brasileira enfrenta grandes desafios. O principal deles é ampliar as áreas de exploração, que é uma condição necessária para manter o nível atual de produção. Para isso, é preciso convencer os órgãos ambientais de que é possível extrair petróleo e gás em modelo de produção segura e sustentável. A abertura de novas fronteiras enfrenta maiores dificuldades para licenciamento, como é o recente caso da exploração da Margem Equatorial. Mas há impedimento em várias outras frentes, com a exploração do gás não convencional e até mesmo na reativação de poços em campos maduros que ficaram parados por muito tempo e foram cobertos por vegetação secundaria de mata atlântica. Essas resistências precisam ser reduzidas, mostrando que há um modelo que seja ao mesmo tempo gerador de riqueza e que possa respeitar o meio ambiente.
Além das questões de licenciamento, a ampliação e manutenção dos níveis produção sofrem com os mesmos desafios de sempre: falta de infraestrutura adequada, poucos oleodutos e instalações de armazenamento, o que limita a eficiência da produção e distribuição de petróleo e gás. Em adição, por ser majoritariamente offshore, continuam os desafios logísticos e de tecnologia em águas profundas, áreas remotas de difícil acesso.
Quais as principais oportunidades hoje e nos próximos anos, para o país e, de forma mais específica, para o estado?
O carro-chefe continuará sendo a exploração do pré-sal, local onde há ainda muito petróleo a ser explorado. Estima-se que a produção de petróleo no pré-sal brasileiro atingirá seu pico em 2030, porém mesmo após essa data investimentos deverão ser feitos nesta área. De acordo com o Plano Estratégico da Petrobras, para o período de 2023 a 2027, no pré-sal estão previstas a instalação de 11 novas plataformas no mar até 2027 e há investimentos de US$ 64 bilhões em atividades de exploração e produção, com foco no pré-sal. Porém, há outras fronteiras se abrindo, com a exploração da margem equatorial e a também de Sergipe Alagoas.
Na Bahia, majoritariamente onshore, as oportunidades são amplas para empresas de menor porte, com a exploração dos campos maduros e campos marginais. O estado hoje vive o dilema da busca por uma maior oferta de gás natural, que pode vir desses campos maduros ou mesmo da nova fronteira de Sergipe-Alagoas.
Nesse contexto, de desafios e oportunidades, qual a importância e o papel da ONIP para a indústria nacional de petróleo e gás?
Na cadeia da indústria de petróleo e gás, que é ampla, e tem início antes da exploração e caminha até o transporte a distribuição de derivados para o consumidor final, surgem muitas oportunidades que podem não estar sendo bem aproveitadas pela indústria local. Essa falta de inserção tem origem em diversos causas, seja pela complexidade do sistema, pela baixa competitividade da indústria local, por falta de tecnologia adequada, por baixo fator de escala etc. Mas há também falta de informações ou mesmo políticas adequadas de fomento ao setor.
O papel de articulador da indústria local com a indústria de petróleo tem sido bem executado pela ONIP. Em sua missão de ampliar a participação da indústria nacional na exploração e produção de petróleo e gás, a ONIP tem papel relevante para o desenvolvimento do mercado do petróleo para todo o setor industrial brasileiro. Em seus mais de 20 anos, a Organização é o principal fórum para a discussão da inserção cada vez maior da indústria brasileira. Para isso, tem buscado, não somente defender interesses, mas principalmente em trazer o empresariado, com maior engajamento do setor, mostrando oportunidades e os caminhos para encontrar soluções que possam dinamizar a economia brasileira.
Que temas precisam ser debatidos e quais ações e iniciativas deveriam ou precisam ser desenvolvidas nos próximos anos, para alavancar a indústria nacional de petróleo e gás?
São muitos os temas que precisam de atenção, dentre os quais se destacam de modo geral as questões de licenciamento ambiental e questões logísticas e de infraestrutura.
De modo específico, é preciso continuar o aprimoramento da industrial brasileira por meio da inovação e estímulo a mudanças nos padrões de competitividade. Nesse caso, a pesquisa e desenvolvimento é fundamental para enfrentar os desafios da produção de petróleo e gás do Brasil. Por fim, é importante defender a indústria nacional e buscar a inserção na cadeia de petróleo das médias e pequenas empresas.