Entrevista ONIP – Paolo Fiorletta, diretor de Óleo & Gás da Metroval

Indústria de petróleo e gás tem oportunidades no Brasil, mas barreiras poderiam ser menores
A indústria de petróleo e gás tem oportunidades no Brasil, mas barreiras poderiam ser menores. A opinião é de Paolo Fiorletta, diretor de Óleo & Gás da Metroval, empresa brasileira responsável pela fabricação, adequação e manutenção de sistemas de medição em diversas plataformas de petróleo em operação no Brasil.
“Nos planos de negócios das operadoras no país e especialmente da Petrobras, é possível identificar grandes oportunidades de negócios nos próximos 10 anos ou mais”, observa. “Adicionalmente, temos as novas operadoras que têm surgido predominantemente na produção onshore, que vem agregando uma fatia importante de negócios para a indústria”, acrescenta.
Para o executivo, não há como dizer que não há oportunidades no Brasil nesta indústria, mas há algumas barreiras que poderiam ser menores.
Para Fiorletta, entre os desafios enfrentados pela indústria de petróleo e gás brasileira estão a assimetria dos benefícios tributários aplicados aos equipamentos importados, em relação aos aplicados aos equipamentos nacionais, o custo do financiamento para a indústria e a volatilidade cambial.
“Deveríamos gerar políticas de Estado com estímulos a investimentos na indústria nacional”, afirma, em entrevista exclusiva para o site da ONIP.
Em junho, durante o Macaé Energy 2024, Fiorletta participou como palestrante do painel “Novas Perspectivas para a Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás”, junto com Glauco Nader (coordenador da Rede Petro Bacia de Campos), Glauber Barreto (diretor de Negócios da Andrade Gutierrez) e Marcelo Bonilha (CEO do EBSE). A Coordenadora de Planejamento da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), Marta Lahtermaher, participou do painel como moderadora.
Na sua percepção, quais são os principais os desafios da indústria brasileira de petróleo e gás, hoje?
Os principais desafios não mudaram muito na história da indústria nacional no contexto do óleo e gás nos últimos 10 anos. Entendo que o desafio principal está na assimetria dos benefícios tributários aplicados aos equipamentos importados, quando nem todos são aplicados aos equipamentos nacionais. A diferença pode variar diretamente de 6% a 15%, dependendo do NCM e outras variáveis como a distância do produto ao final da escala de fornecimento.
Desta forma, a dificuldade de competir com o item importado deixa de ser somente o preço, mas também condições tributárias aplicáveis. Isso já foi exaustivamente demonstrado e discutido, porém sem efeito até o momento.
Outra condição que constitui grande desafio à nossa indústria é o financiamento, onde em outros países o custo financeiro é drasticamente inferior devido a financiamentos do estado para esta atividade, no Brasil o custo do dinheiro para financiar a indústria é elevadíssimo, adicionando mais um fator complicador na competitividade. Um ponto não muito citado e que em minha opinião é bastante relevante, é a questão da volatilidade cambial, onde a imprevisibilidade, ou melhor, a volatilidade cambial, mesmo que em menor proporção aos itens anteriores gera impacto. O hedge cambial pode resolver isso? Pode, porém o custo desta operação também é elevado pelo próprio risco de nossa moeda.
Quais as principais oportunidades hoje e nos próximos anos?
Ao visitarmos os planos de negócios das operadoras no País e especialmente da Petrobras, é possível identificar grandes oportunidades de negócios nos próximos 10 anos ou mais, considerando o patamar de produção 4,6 Mbbl/d estimado para 2028 (Offshore+Onshore) e sendo o Brasil o oitavo maior consumidor de derivados de petróleo do mundo. Não há como não identificar ou mesmo prever muitas oportunidades, porém há de se observar os desafios já citados no contexto destas oportunidades.
Outros fatores positivos corroboram para a evolução da produção brasileira, onde o Brasil, por ser um dos principais atores da transição energética e por ter um dos menores índices de emissão de CO2 na produção de O&G (4% do total de emissões contra 9% do índice mundial), esta atividade tem um valor ainda maior para o País.
Adicionalmente, temos as novas operadoras que tem surgido predominantemente na produção onshore, que vem agregando uma fatia importante de negócios para a indústria.
Diante deste quadro, não há como dizer que não há oportunidades no Brasil nesta indústria, mas há algumas barreiras que poderiam ser menores.
Que temas precisam ser debatidos e quais ações e iniciativas deveriam ou precisam ser desenvolvidas nos próximos anos, para alavancar a indústria nacional de petróleo e gás?
Os temas mais relevantes para fortalecer a indústria nacional, são sempre as formas de estímulo à indústria que podem vir de diversas maneiras, como fazem os países produtores de hidrocarbonetos do mundo inteiro.
O Brasil ainda não encontrou a forma adequada de fazer isso com eficiência, onde, a meu ver, estamos distantes de uma política clara e estruturada para que a indústria nacional participe, de fato, dos sistemas de produção de óleo e gás, especialmente onde há o benefício do Repetro, como em navios FPSOs. Este tema já está sendo debatido pelas entidades de classe e associações, onde o consenso deve prevalecer e não o benefício exclusivo deste ou aquele setor.
Uma das abordagens que deveria tomar força nesta discussão de forma mais séria, está no crescente movimento de ESG (ou ASG) onde na prática recomendável da ABNT (PR2030) é possível identificar no Eixo Social (S) que dar preferência a fornecedores locais de produtos e serviços é uma recomendação, bem como nas GRIs (Global Reporting Initiative), caso da GRI 11, apontam o estímulo a fornecedores locais como meio de gerar sustentabilidade.
Finalmente, deveríamos debater a questão estratégica que países como Estados Unidos estão adotando, na mão contrária da globalização, onde o desenvolvimento da tecnologia e fabricação local trazem a segurança operacional, bem como a garantia de soberania sobre sua produção. Deveríamos gerar políticas de Estado com estímulos a investimentos na indústria nacional, o que não está aparentemente nos objetivos do Brasil.